sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Honra no futebol de 'sangue' camachense in Diário de Notícias da Madeira

É um exemplo raro e a seguir. A AD Camacha, equipa que compete na II Divisão, Zona Norte, destaca-se dos demais adversários madeirenses pelo facto de possuir no seu plantel 9 jogadores naturais da freguesia, nma aposta clara na 'prata da casa'.
Todos, nados e criados na freguesia, começaram a dar os primeiros pontapés na bola bem cedo no clube, talvez impelidos pela história que garante ter sido na freguesia camachense que se jogou futebol pela primeira vez em Portugal. 
Certo é que o futebol é uma modalidade muito acarinhada na freguesia, onde existem centenas de praticantes, facto comprovado pelo torneio de futsal que no Verão se realiza ringue do Largo da Achada.
Apesar da aposta nos escalões de formação, o número significativo de futebolistas camachenses no clube é inédito para os responsáveis, até porque a instituição tem  apenas 32 anos de existência, actualmente liderada por Celso Almeida que em muitos jogos é também o médico de serviço. Certo é que a aposta nos jogadores da terra tem vindo a dar resultado pois a equipa encontra-se a realizar uma prova a todos os níveis surpreendente, com um quarto lugar na classificação geral, a apenas cinco pontos do segundo classificado, o Tirsense. Isto depois de ter definido que o objectivo seria realizar um campeonato sem percalços.
Com sede naquela que é a segunda freguesia mais populosa do concelho de Santa Cruz - só atrás do Caniço -, com 8 mil habitantes, a AD Camacha consegue 1 jogador no plantel principal por cada 888 habitantes. Três deles são titulares, todos os outros já foram pelo menos convocados. Até Ludgero, que chegou ao clube em Janeiro já jogou.
Aposta na formação resulta
Há seis anos no clube, o técnico José Barros, que até já foi adjunto de Leonardo Jardim diz que o número de 'camacheiros' no plantel faz parte da política do clube. "Nós procuramos sempre rentabilizar e fazer uma boa escola com a formação, que começou com o Leonardo Jardim que também implementou o projecto 'DES' (ver quadro superior)". 
O técnico diz que os benefícios dessa aposta são evidentes. "Agora estamos a colher os frutos dessa filosofia. Há muitos anos que os clubes estão a falar, mas que nós de facto pusemos em prática. Rentabilizamos os nossos recursos".
Além das vantagens da aposta na formação, José Barros aponta outros benefícios. "Há vantagens a todos os níveis.  O facto de serem cá da terra traz sempre familiares aos jogos que se identificam com o clube, que desta forma tem uma identidade".
Mais. "Com esta ligação, no futuro, estes atletas poderão vir a fazer parte da direcção porque estão inseridos na instituição. O trabalho é feito com 'pés e cabeça' e com alguma preocupação, mas com trabalho pensado, ponderado e planeado".
Em suma. "O lugar que ocupamos é fruto da qualidade dos atletas, da organização, do trabalho e isso permite que consigamos rentabilizar aquilo que queremos".
"É uma honra" diz capitão
No clube há mais de 14 anos, José Paulo, capitão, já faz parte da 'mobília' da AD Camacha. Na carreira de futebolista não conheceu outro clube. Sorri perante a raridade.
 "Comecei a jogar cá graças aos meus colegas. Gostaram da minha maneira de jogar e acabei por ter sido uma aposta do clube".
O capitão emociona-se e dificilmente encontra palavras para descrever o que significa representar o clube da freguesia. "É uma honra representar este clube. Não conheci outro na carreira. Os jogadores sentem-se como se estivessem numa família. Isto aqui é uma família".
João Paulo também explica o número elevado de jogadores da freguesia. "A equipa passou a ser amadora e por isso mais facilmente se dá oportunidade aos jovens que assim podem conciliar os estudos com o futebol".
Outro dos históricos é Nivaldo Silva. Chegou a ter propostas para sair do clube que não se "proporcionaram" por isso, também jogou toda a carreira na Camacha. Sucinto, diz apenas que "é sempre especial representar o clube da terra".
Clube ajuda com Projecto 'DES'
Institucionalizado por Leonardo Jardim no clube, o projecto 'DES', de cariz transversal, representa uma das principais apostas do clube camachense. 
"A sigla significa um a aposta com o desenvolvimento Desportivo, Educacional e Social dos nossos jovens", avança o técnico, que acrescenta. 
" Esse projecto é uma das nossas preocupações desde o início. Queremos oferecer formação desportiva aos mais jovens, mas nós também queremos criar homens e pessoas preparadas para entrar na sociedade com outros conhecimentos e para isso queremos envolver os pais".
Desenvolvido nas instalações do clube, o projecto DES oferece todos os dias úteis explicações de  português, inglês e matemática, que podem ser usufruídas pelos atletas, crianças, sócios e ainda pais. 
Em breve, o clube passa a disponibilizar cursos do Centro de Novas Oportunidades. "Os atletas podem usufruir disso para seu enriquecimento. O clube tem assim uma forte vertente educacional com acesso à Internet", termina o técnico. 
José Barros Suspenso durante 15 dias
Castigado pelo Conselho  de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol com 15 dias de suspensão, mais 150 euros de multa pelos protestos no final do jogo frente ao União SAD, José Barros já sabe que não vai estar no banco na partida frente ao Marítimo B, em Santo António.  O técnico mostra-se apreensivo sobre a sua ausência. "Os jogadores sabem o que têm de fazer. Naturalmente, a presença do líder é fundamental. Mas a minha preocupação é trabalhar ao máximo para que os jogadores necessitem menos do treinador".
Questionado sobre a justiça do castigo, Barros considera-o pesado. "É um equívoco. Houve protestos, mas eles não justificavam a minha expulsão. Inclusive, o árbitro alega protestos mas eu fui separar  os meus jogadores e o árbitro decidiu expulsar-me sem que eu lhe tivesse dirigido a palavras".
O técnico também se diz preocupado com o estado do relvado de Santo António mas também da Camacha que ultimamente têm sido alvo de críticas.

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