Gente da minha terra
José Barros Araújo “É
o sonho que comanda a vida” in jornal Fonte Nova
Encontrámo-lo passados
seis anos de lhe termos feito a primeira entrevista. Na altura dizia correr
atrás de um sonho. Queria ser treinador profissional de futebol. Depois de uma
vida passada entre a formação académica e os relvados do campo de futebol, percorreu
um caminho que o levou ao encontro daquilo com que sempre sonhou. Hoje, seis
anos volvidos, foi treinador da equipa b do Marítimo e já possui o curso de
treinador Uefa Pro (nível 4), o que lhe permite treinar qualquer equipa, até
mesmo a seleção Nacional.
Vive na ilha da
Madeira há mais de uma década. Adora o clima, o mar e a brisa do oceano, mas
nunca esqueceu Portalegre. Apesar de ter nascido em Angola, veio para a nossa
cidade ainda muito novo. Aqui deu os primeiros passos e aqui aprendeu e
desenvolveu o gosto pelo futebol. Conheceu e fez amigos, pessoas que assume
fundamentais na sua vida. Com elas cresceu e aprendeu a seguir o seu caminho.
Embora sempre
apoiado e grato por aqueles que o ajudaram a crescer, pragmático e consciente
da sua vontade, José Barros sempre soube o que queria. O Estrela de Portalegre
sempre foi o seu clube, aquele que sempre jogou na sua formação. Partilhou o
sonho de ser jogador de futebol com muitos jovens. Comemorou as vitórias e
sofreu as derrotas. Saboreou cada momento, cada minuto... Neste clube, que
garante guardar no coração, aprendeu que os sonhos são para se perseguir.
Apesar da paixão
pelo futebol, nunca a prática desportiva o desviou do percurso assumidamente
normal de qualquer jovem. Estudou, completou o 12º Ano e houve que fazer outras
escolhas. Amante do desporto desde sempre, o mais lógico seria enveredar por
uma formação superior na área. Mas não o fez. Soube ouvir e recolher conselhos
e por isso optou por alargar a sua formação e candidatou-se ao curso superior
de Português e Inglês, da Escola Superior de Educação de Portalegre. A educação
também é uma das suas paixões. Do pai herdou o gosto pelo ensino e as línguas
sempre fizeram parte do seu quotidiano, tendo aprendido Francês; Inglês e Alemão,
até porque, disse-nos, “ para quem persegue o sonho de ser um treinador de
nível internacional deve saber falar fluentemente pelo menos Inglês e por isso
a escolha não foi difícil.”
Quando terminou o
curso, José Barros concorreu a nível nacional. A primeira experiência como
professor foi no continente, Cartaxo, mas no segundo ano optou por
candidatar-se à Madeira, onde está há já 15 anos. “Acabei por me apaixonar pela
ilha. Fui criando laços e acabei por me afeiçoar às pessoas e ao clima.”
Em simultâneo com o
ensino, desenvolveu outras atividades. Fundou o Clube Escola Básica e
Secundária de Santa Cruz, onde a grande preocupação “ era a formação a par de
outras práticas desportivas além do futebol. Foi aí que comecei a desenvolver a
minha carreira como treinador embora na modalidade de ténis de mesa, orientando
e educando uma equipa.” Contudo, o futebol nunca o largou e apesar dos seus
muitos afazeres, ainda conseguiu arranjar tempo para jogar em alguns clubes da
Região. Mais tarde surgiu um convite para
liderar a equipa de futebol da Universidade da Madeira, onde não hesitou em
aceitar o desafio. “Foi aí que começou a minha verdadeira carreira como
treinador de futebol.” Dois anos depois, “fui convidado por Leonardo jardim,
para trabalhar com ele na Associação Desportiva da Camacha como adjunto. Após a
sua saída fiquei como treinador principal. Neste clube, estive sete anos
fantásticos, quatro dos quais como treinador principal. Durante esse período
disputei os campeonatos nacionais, onde fui campeão nacional da 3ª Divisão e
venci uma Taça da Madeira. Dei seguimento, também, a um projeto iniciado pelo
Leonardo jardim, “Projecto Des”, um projeto de desenvolvimento desportivo,
educativo e social, sendo este inovador e de reconhecido sucesso. “
Na presente época
desportiva atingiu os campeonatos profissionais treinando a equipa B do
Marítimo na 2ª Liga Profissional Portuguesa. Aqui viu reforçado o desejo de
chegar à primeira liga e de vir, um dia, a ser o treinador principal de um
grande clube português. “ O meu sonho é estar na elite dos treinadores
nacionais e internacionais”, disse-nos explicando, “ sou uma pessoa pragmática,
ambiciosa e tenho os meus próprios objectivos, tento ir ao encontro dos mesmos
lutando todos os dias para os concretizar, sendo fiel aos meus princípios. É
claro que surgem sempre obstáculos mas tento sempre encontrar soluções e
motivos para os ultrapassar, de consciência limpa e serena de quem faz tudo
para o conseguir.”
Por isso, a
permanência na ilha da Madeira ainda não é certa, porque “ para dar seguimento
à carreira e à concretização dos meus objectivos é provável que tenha sair da
Madeira. Não me posso restringir a uma zona ou a uma Região. Tal como os
professores nesta profissão temos de estar preparados para andar com a casa às
costas.”
As pressões sofridas neste meio não o atemorizam e requerem
alguma capacidade de controlo. “É verdade que sofremos muitas pressões, de
adeptos, dirigentes, treinadores, porque naturalmente querem sempre resultados
de uma forma imediata. E a exigência é sempre maior ao treinador. Um treinador
nunca ganha sozinho mas perde sempre sozinho. Mas nunca podemos fraquejar,
temos de estar preparados e fiéis aos nossos princípios, mesmo que por vezes
isso nos possa prejudicar. Toda a pressão só nos fortalece e faz crescer,
torna-nos mais competentes e capazes.”
Por isso, José
Barros, como é conhecido no mundo do futebol, está disponível e de braços
abertos para abraçar outros projetos, “ há que ter o telefone sempre ligado e
estar sempre atualizado e preparado para emigrar. Neste momento, “ todo o meu
investimento é mesmo na carreira de treinador, porque essa é de facto a minha
paixão.”
A par do futebol, a
docência continua a fazer parte da vida de José Barros Araújo. Apesar de
perseguir o sonho de ser treinador de futebol, nunca quis abandonar o ensino, a
educação. ”Quando cheguei aos campeonatos nacionais, a profissão de treinador
deixou de ser um hobby. Tinha de estar, efetivamente, a cem por cento dedicado
ao treino o que me impediu de leccionar. Mesmo assim, procurei envolver-me em
projetos ligados à educação.”
Ao longo de todo
este tempo desenvolveu projetos(Projecto Des), participou em colóquios,
palestras em escolas, envolveu-se num projeto de alerta para a prevenção das
toxicodependências, formação para adultos. Tudo isto permitiu-lhe manter em
simultâneo as duas atividades profissionais, a de professor, onde é conhecido
por José Araújo, e a de treinador, onde o conhecem por José Barros. Duas
identidades que não chocam, pelo contrário, disse-nos complementam-se. “ Sou a
mesma pessoa seja no futebol ou no ensino.”
“Adorava treinar o Futebol Clube do Porto”
Embora se assuma
benfiquista, não esconde o desejo de um dia, quem sabe, de treinar aquele que
considera ser o clube em Portugal que dá “maior estabilidade e condições aos
treinadores desenvolverem a sua atividade.” O Futebol Clube do Porto, “ permite
que os treinadores cresçam e é indiscutível a presença de um ponto comum em que
todos os elementos do clube partilham, vencer. É sem dúvida o clube com muita
estabilidade” No entanto, não esconde que pela dimensão que o clube comporta o
Benfica é sempre muito apetecível. Mas é claro que qualquer convite “será
sempre bem vindo” e “tudo farei para o representar condignamente,
independentemente da sua dimensão.”
Por outro lado,
José Barros elege o campeonato Inglês como “o melhor do mundo.” Devido “à sua
organização, envolvimento, fair-play, desportivismo, filosofia e bastante
estabilidade tantos dos treinadores como dos jogadores.”
No que diz respeito
a treinadores, José Barros não teve dúvidas em eleger Leonardo Jardim, como “o
melhor treinador de Portugal”. Uma escolha que se prende pelo fato de conhecer
“bastante bem a sua qualidade de trabalho e como indivíduo.” Contudo, “ não
posso ficar indiferente e reconhecer outros grandes treinadores como são os
casos de José Mourinho, Alex Ferguson, Fábio Capello, entre outros,
principalmente portugueses que têm demonstrado pelo mundo fora a qualidade do
treinador português. Quanto a Del Bosque reconhece que não é o seu maior fã mas
considera “um bom técnico sem dúvida.”
Este é o homem que
tem conseguido, dia a dia, subir a escada do sucesso e alcançar o seu grande
objectivo de ser treinador. Passo a passo tem vindo a concretizar o sonho da
sua vida e hoje, mais do que ontem e menos que amanhã, está convencido que com
empenho, competência e esforço “conseguirei ultrapassar todos os obstáculos e
concretizarei no final o desejo que me acompanha desde criança: ser um grande e
reconhecido treinador.”
Pai de três filhos,
duas meninas e um rapaz, José Barros Araújo continua a vir a Portalegre sempre
que pode. Na cidade já só tem uma irmã como família direta e os amigos também
já não são muitos, mas “esta cidade ficará no meu coração para toda a vida”,
por isso, “continuarei a visitá-la sempre que possa...” Resta-nos esperar que
daqui a algum tempo possamos entrevistar, tal como fizemos agora e há seis anos
atrás, o grande e reconhecido treinador José Barros.
Manuela Lã Branca
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