sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Entrevista ao Treinador José Barros

Entrevista ao Treinador da semana, José Barros (Marítimo B)

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Entrevista ao Treinador da semana, José Barros (Marítimo B)

"tenho ambições e ao contrário de outros não quero só chegar á Liga Zon Sagres…Quero chegar, ficar e ser um dos melhores"

Esta semana entrevistei o Treinador José Barros (Marítimo B) a propósito da goleada imposta ao candidato Arouca. Esse foi só o ponto de partida para uma conversa com um treinador de discurso lúcido, objetivo e ambicioso. Desde o projeto Marítimo B até ao seu passado como adjunto de Leonardo Jardim, nada ficou por responder e José Barros até revelou quais os seus objetivos mais imediatos.

LusoFans -Qual foi o segredo para a vitória sobre o candidato Arouca?
No futebol não há segredos. A única coisa com que nos preocupamos foi estudar o adversário, recolher informação, saber das suas mais-valias e as suas lacunas e trabalhamos toda semana para potenciar todos estes aspetos e depois teve muito a ver com a nossa identidade, somos uma equipa de formação e abordamos sempre o jogo de uma forma positiva apesar de termos a consciência de ter-mos defrontado um adversário de qualidade, que procura a subida de divisão mas nunca fugindo aos nossos processos habituais e aquilo que nos caracteriza, felizmente os jogadores foram exímios a aplicar as capacidades técnicas que têm e na aplicação da estratégia planeada para o jogo e quando assim é torna-se tudo muito mais favorável e portanto fizemos um jogo de grande qualidade.
José Barros - Como comenta as críticas ao estado do relvado por parte do treinador Vítor Oliveira?
Naturalmente o estado do relvado prejudica, acima de tudo, o Futebol em si, mas prejudica mais quando uma equipa é mais técnica como a minha. Podemos não ser a equipa mais forte do campeonato mas, até devido a nossa juventude, acabamos por ser traídos pelo estado do relvado. Realmente o relvado não está nas melhores condições, no entanto nunca abdicamos de pôr a bola no chão e procurar cumprir os nossos princípios. Se nós conseguimos, então o Arouca também deveria ter conseguido. Se não conseguiu, eles lá terão as suas razões mas isso não me diz nada pois o que me preocupa é a equipa do Marítimo B.
LF - Venceu todas as 5 partidas em casa…qual é o segredo escondido do campo de santo António?
J.B. - Não. Já trabalhei noutras divisões e quem me conhece sabe que as minhas equipas são fortes em casa. No clube onde treinei anteriormente (Camacha) alcancei um recorde de cerca de dois anos sem perder em casa, já é algo que vem da minha filosofia. Aqui o Marítimo também costuma ser forte em casa e tentamos incutir isso e temos sido fortes e também felizes, temos trabalhado para isso. Em suma esse é o segredo, trabalhar sempre nos limites para em casa sermos sempre nós a mandar, independentemente das situações.


LF - O Marítimo B tem sido uma surpresa neste início de época...já previa esta situação?
J.B. - Não estou nada surpreendido com o trajeto do Marítimo B. Está dentro daquilo que internamente tinha-mos apontado. Tinha a consciência de que muita gente não nos iria dar o valor devido e até mesmo subestimar, talvez isso tenha funcionado a nosso favor. Quando cheguei encontrei muito valor, muito talento e coube-me a mim potenciar esse talento sabendo que podíamos fazer coisas boas. Naturalmente estamos ainda no início, ainda há muitos jogos mas resultados dão a confiança necessária para continuarmos com os nossos processos não nos vamos desviar das nossas ideias da nossa filosofia nem do nosso modelo de jogo. Não vamos embandeirar em arco com as vitórias nem dramatizar com as derrotas fora de casa pois estamos num processo de formação, de evolução e há uma preocupação de fazer crescer estes jogadores e a nossa filosofia passa por potenciar estes jogadores, pois se eles querem mais altos voos, jogar em ambientes de maior exigência, têm de estar preparados para ultrapassar todos os obstáculos que possam encontrar e estes resultados só surpreendem quem estado um pouco afastado pois está a ser efetuado um trabalho de qualidade e os jogadores têm sido exímios na aplicação da filosofia de jogo, do modelo de jogo e isso permite conciliar resultados com formação de uma forma tranquila.
LF - Sabendo que esta é uma nova realidade para a equipa B, o que lhe pediu a direção em termos de objetivos para esta época?
J.B. - È conhecido que o presidente pediu para dar continuidade ao projeto da equipa B de formar jogadores para a equipa principal e a nossa preocupação tem sido essa sabendo que temos um quadro competitivo mais exigente. Queremos continuar por cá e dar seguimento áquilo que tem sido feito nos últimos anos, que é dar uma mais-valia á formação dos atletas com o crescimento dos atletas. Promover atletas á equipa A é o objetivo tendo em conta os exemplos de sucesso recentes, tendo o Pepe (Real Madrid) como exemplo.
LF - Sendo o Marítimo uma equipa que nos últimos anos formou com sucesso bastantes jogadores na equipa B, sentiu alguma pressão adicional para o êxito?
J.B. - Não, muito longe disso! A única pressão que senti na vida até hoje foi no nascimento dos meus 3 filhos e na sua educação. Sinto-me lisonjeado pelo convite para este projeto pois quer dizer que viram em mim qualidades para dar continuidade a um bom trabalho que já vinha sendo feito.
LF - Sendo este é um projeto abrangente que tem em conta toda a estrutura do futebol jovem do Marítimo, de que forma se faz a interligação com a equipa principal?
J.B. - Há uma ligação muito forte. Existe no clube um modelo de jogo transversal a todos os escalões e nós no dia-a-dia estamos em contacto, tendo em conta a evolução dos atletas, avaliamos o trabalho que está a ser feito e isso permite-nos ter dados concretos sobre o caminho que queremos seguir e sobre a estratégia central a adotar. Portanto, a ligação é muito próxima e saudável na perspetiva de servir o clube, de cumprir a filosofia do clube onde o Pedro Martins teve um papel fundamental na implantação desse modelo de jogo e contou com a minha colaboração.
LF - Um dos problemas que se põe quando existem equipas B é a esporádica integração de elementos da equipa principal na B…sente que isso é uma dificuldade? Há alguma estratégia por parte do marítimo para gerir essa situação?
J.B. - A estratégia que existe não é secreta e não tenho problema nenhum em divulgar. Como existe um modelo de jogo e metodologia de treino comuns, o que difere é o cunho pessoal de cada treinador, acaba por não haver grande diferença para um jogador da equipa A que venha treinar com a equipa B. Isso permite que o jogador conheça os processos defensivos e ofensivos do clube. O facto de o Pedro Martins acompanhar de perto todo este processo faz com que os jogadores não encarem como um castigo e é bom para eles. Dou como exemplo o Gonçalo Abreu que fez connosco os 3 primeiros jogos e agora está na equipa A e não regressou. Os jogadores sentem que há essa valorização e não sentem que há 2 equipas. Há, isso sim, 2 competições em que o Marítimo está inserido.

LF - Atendendo á qualidade demonstrada por jogadores como Ricardo Alves, Nuno Rocha, Marakis, Patrick Bauer, João Vieira, etc. acha que alguns terão oportunidades de singrar na equipa A  a breve prazo? E a ser assim não teme que eles não regressem?
J.B. - Eu quero que eles não regressem. Se não regressarem significa que o trabalho está a ser bem feito e faço votos para que não regressem e isso é transmitido por mim aos jogadores. Isso faz parte da evolução dos jogadores e o facto de regressarem não significa um passo atrás.

LF - O que pode mudar na evolução dos jogadores com a inclusão das equipas B na Segunda Liga?
J.B. - Muda muita coisa. O jogador jovem tem mais projeção, está inserido num quadro competitivo mais exigente onde está mais próximo daquilo que é a exigência da Liga Zon Sagres. Há a visibilidade que a 2ªB e a 3ªDivisões não têm e nessas competições há jogadores com muita qualidade que estão escondidos e o futebol português vai a curto prazo beneficiar desta inclusão e prevejo mesmo que alguns jogadores de top da Liga Zon Sagres num futuro próximo sejam oriundos ou tenham tido passagens pela Segunda Liga e pelas equipas B.

LF - O Marítimo B não pode subir e portanto o José Barros não terá de fugir á seguinte questão. Quais os principais candidatos á subida?
J.B. - Por aquilo que tenho observado há equipas com investimentos muito fortes como são os casos do Belenenses, equipa solida e coesa que já tive oportunidade de observar, o próprio Arouca que, não é este ultimo resultado que lhe retira qualidade, aliás este resultado foi mais mérito do Marítimo B que demérito do Arouca, tem uma equipa recheada de jogadores bons jogadores, experientes, com passado de Segunda Liga e até de Primeira Divisão e com subidas de divisão. Uma equipa que poderia estar um pouco mais á frente e que irá sair dos lugares de baixo pois tem qualidade para isso é o Feirense. Para mim são estas as equipas que, para já, poderão estar até ao fim a lutar pela subida não esquecendo o Santa Clara, a Oliveirense e o Leixões, que são também equipas fortes. O campeonato ainda está no início, é muito longo mas em suma são estas as equipas que irão lutar pelo título da Segunda Liga, não querendo faltar ao respeito a todas as outras.

LF - Foi durante 3 épocas o adjunto de Leonardo jardim numa altura em que este era um treinador apenas reconhecido na Madeira. Agora é um treinador de Chanpions League…o que ficou dessa experiencia?
J.B. - Foi uma experiência fantástica e um privilégio. Já na altura, por aquilo que falávamos de futebol, dava para perceber que estava na presença de um grande treinador com excelentes ideias e que necessitava só ter a oportunidade de mostrar o seu valor fora da Madeira e eu tinha a certeza que ele o iria fazer sem problemas nenhuns. O que ficou foram os ensinamentos, o facto de trabalhar com ele permitiu-me aprender imenso. Eu tenho que aprender com todas a experiência, sejam elas boas ou más e esta foi naturalmente muito, muito boa, não por ele estar onde está agora mas porque tive o privilégio de trabalhar com ele e independentemente de onde ele pudesse estar agora, eu não mudava de opinião. Aprendi algumas coisas com ele, como aprendemos com todos os treinadores mas realmente o Leonardo Jardim foi alguém que me marcou, que apostou em mim quando eu estava numa equipa do regional e aprendi imenso o que é treinar numa equipa profissional e de forma metódica.

LF - Porque não o seguiu na aventura dele no continente?
J.B. - Na altura houve essa hipótese mas devido á minha situação profissional não me foi possível. Naturalmente outras pessoas o fizeram e eu fico contente com isso. Houve que me tivesse dito “e agora porque não foste?..” não o fiz por não ter confiança nele ou nas suas capacidades mas apenas devido á minha situação profissional naquela altura. Ele seguiu o rumo dele e eu estou a seguir o meu, não com sentimento de pena por não estar com ele mas sim com sentimento de felicidade por ter trabalhado com ele e ver o Leonardo no patamar onde está, nós que tantas vezes falávamos que um dia iriamos estar na Primeira divisão e na Champions League…isso concretizou-se e fico feliz por ele. Agora tento ser eu a seguir esse caminho.
LF - Tendo o José Barros essa ambição, sente que  é mais difícil ser reconhecido profissionalmente quando se trabalha numa ilha como a Madeira?
J.B. - Sem dúvida…sem dúvida. A insularidade sente-se nesse aspeto e naturalmente eu que aqui na Madeira sou algo conhecido devido ao trabalho desenvolvido, a prova disso é ter chegado ao Marítimo, ainda que a informação não chegue. Há também os jogos de bastidores, os padrinhos e também sou prejudicado por não ter sido jogador de futebol de topo e portanto ninguém me conhece e só com o meu trabalho posso demonstrar a qualidade que tenho. È isso que estou a tentar fazer aqui de modo que a informação chegue ao continente pois tenho muita confiança nas minhas capacidades nas minhas ideias, naquilo que tenho para dar ao futebol e quem apostar em mim não se vai arrepender. Naturalmente a distancia limita um pouco essa aposta pois há sempre a desconfiança mas são obstáculos que vou ter de ultrapassar. Na minha vida não tive nunca nada fácil, tive sempre de lutar por aquilo que tenho e o que quero é que no fim da minha vida possa olhar para trás e mostrar aos meus filhos e netos a missão cumprida no futebol assim como na vida e eles se orgulhem de mim enquanto pessoa séria e competente.
LF - Sonha com uma oportunidade na Liga Zon Sagres? Acha que está mais perto disso por treinar uma equipa B?
J.B. - Não. O passo seguinte para mim seria a Segunda Liga e isso já consegui. Provavelmente se estivesse numa equipa que pudesse subir talvez fosse mais fácil lá chegar por mérito próprio. Quero chegar a Liga Zon Sagres e até a outras ligas. Não estou á espera da queda de ninguém pois o sucesso da equipa A é o meu sucesso, isso está fora de hipóteses. Estou aqui a adquirir experiência e se tiver de esperar 2 ou 3 anos estarei a adquirir experiências e ensinamentos que espero sejam uteis para quando lá chegar até porque quero estar preparado. No entanto se esse convite surgir mais cedo faço o meu trabalho de casa para conseguir corresponder pois eu sou novo, tenho ambições e ao contrário de outros não quero só chegar á Liga Zon Sagres…Quero chegar, ficar e ser um dos melhores. Para isso tenho de ter bases sustentadas para quando lá chegar não haver nenhum tremor de terra que me faça caír.
Ao José Barros endereçamos as nossas melhores felicidades e agradecemos a disponibilidade e simpatia com que respondeu a todas as questões. Muitos treinadores têm sido contactados para dar os seus pontos de vista e apresentarem as suas ideia e vamos continuar a trazê-los aqui a esta página, assim eles, como o José Barros e outros já entrevistados anteriormente, entendam a importância das novas fontes de informação e demonstrem esta humildade e abertura que só os engrandece enquanto técnicos assim como enriquece a competição, que é no fundo o grande objetivo desta página sobre a Segunda Liga.
Entrevista conduzida por Pedro Gonçalves (Redator da Segunda Liga)

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